André Martins Costa vai representar o Brasil na modalidade de bocha em Paris 2024 e realizou uma entrevista com a Aliança Distrofia Brasil (ADB), na qual compartilhou sua trajetória no esporte e suas expectativas para os Jogos Paralímpicos.
ADB: Por que você escolheu jogar bocha?
André: “No início, quando eu decidi aprender mais sobre esportes paralímpicos, eu queria fazer tênis de mesa, pois sempre joguei na escola e gostava. Descobri o Comitê Paralímpico pela internet e conheci o projeto Escola Paralímpica de Esportes. Logo me interessei pelo tênis de mesa, mas, ao chegar lá, me indicaram a bocha por ser um esporte menos intenso e o tênis poderia agravar minha deficiência.” André tem distrofia muscular de Duchenne. “Então me indicaram a bocha, eu me apaixonei pelo esporte e estou lá até hoje.”
ADB: Como foi sua trajetória para se tornar um atleta paralímpico?
André: “Comecei em 2018 e estou na seleção há 2 anos. Minha família me apoiou muito e eu acho que isso foi o mais importante para eu acreditar que eu poderia ser um atleta, porque no começo mesmo eu não acreditava muito. A bocha apareceu no momento certo da minha vida, pois eu estava terminando o ensino médio e procurando o que ia seguir. Tive um bom resultado na minha primeira competição, isso me incentivou a seguir essa carreira. Eu sou o primeiro atleta da Escola Paralímpica a ir para uma Paralimpíadas. Na escolinha existem muitas crianças que se inspiram em mim e veem que é possível ser um atleta, pois tendo uma referência fica mais fácil você seguir na carreira.”
ADB: Como funciona para se inscrever na Escola Paralímpica de Esportes?
André: “No site da Escola Paralímpica, tem um formulário para inscrição. Dependendo da disponibilidade de vagas, eles podem te chamar para fazer uma visita no Comitê e verificar qual esporte é mais adequado para você, de acordo com a sua deficiência. Normalmente, você experimenta vários esportes para ter a vivência e saber qual você se adequa e gosta mais. No meu caso, por conta da minha deficiência, logo me indicaram a bocha.”
ADB: Quando você começou a sonhar em ser um atleta paralímpico?
André: “A competição é diferente do treino. Na competição, você sente a emoção e o nervosismo. Foi ali que eu vi que queria ter essa carreira profissional e ter a vida de atleta. O esporte sempre fez parte da minha vida; eu participava das aulas de educação física, fazia natação, futebol, mesmo com alguma dificuldade ou limitação. Conforme foram passando as competições, eu comecei a acreditar que dava para sonhar com isso. Eu também sempre tive muito apoio dos meus professores, técnico e minha família. Hoje, ir para uma Paralimpíadas é algo surpreendente, acho que ainda nem caiu a ficha direito.”
ADB: Como é o apoio da sua família?
André: “Nas competições nacionais, eles sempre estão juntos comigo, me acompanhando. Mas, quando as competições são internacionais, fica um pouco mais difícil. Eles conseguem assistir às transmissões ao vivo e sempre estão torcendo por mim.”
ADB: Você vai aos treinos e competições sozinhos ou tem alguém para te ajudar?
André: “Durante os treinos, eu tenho sempre alguém para me ajudar, pegar as bolinhas, etc., e também sempre há alguém da equipe da seleção para nos auxiliar nas competições. Quando eu comecei a treinar, ia direto da escola e pegava ônibus e metrô até chegar no Centro Paralímpico.”
ADB: Você acha que, às vezes, existe um receio por parte das famílias em deixar as pessoas saírem sozinhas?
André: “Eu acredito que isso pode ser por medo ou superproteção. Mas também acho que pode ser um pouco de preconceito de não aceitar a deficiência e achar que é a deficiência que define a pessoa. Isso impede a pessoa com deficiência de viver e ter seus momentos sozinha.”
ADB: Estar dentro do Centro Paralímpico e ver tantas pessoas com deficiências diferentes, mudou alguma coisa dentro de você?
André: “Mudou totalmente minha visão do mundo. Antes, eu não tinha muitas pessoas com deficiência na minha vida, mesmo na escola. Ao ver outras pessoas com deficiência vivendo de forma independente, morando sozinhas sem precisar de alguém, aprendi outras coisas e vi outras experiências.”
ADB: Como está sendo sua preparação para as Paraolimpíadas?
André: “Nós tivemos a última competição em Portugal e estamos analisando o que melhorar para chegar mais forte nas Paralimpíadas. Nós também temos nossa psicóloga na sala de treinamento e tenho minha psicóloga particular, porque, na bocha, o aspecto mental é tão importante quanto a técnica. A bocha é um esporte de precisão, estratégia e concentração, por isso, se o aspecto mental não estiver bom, você não consegue executar boas jogadas e tomar boas decisões. Atualmente, eu treino todos os dias, 4 horas por dia, também faço fisioterapia e hidroterapia. Para evitar ficar muito cansado, não realizamos os treinos mais intensos de 8 horas por dia, mas fazemos um estudo dos adversários.”
ADB: Você gostaria de deixar algum comentário sobre as Paralimpíadas?
André: “As Olimpíadas têm sido bastante divulgadas e tem muita cobertura. Eu espero que as Paralimpíadas recebam uma cobertura igualmente abrangente, principalmente, para esportes que não são divulgados, como é o caso do meu esporte. Isso é muito bom para o Brasil, porque temos uma delegação de quase 300 pessoas e vamos muito bem nos esportes Paralímpicos.”