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Distrofia Muscular Congênita

SOBRE

As distrofias musculares congênitas (DMC) compõem um grupo de miopatias caracterizado por comprometimento muscular notado já ao nascimento ou nos primeiros anos de vida, com incidência de 1/60.000 ao nascimento, e prevalência 1/100.000.

 

Trata-se de um grupo heterogêneo de doenças, com comprometimento do músculo esquelético, mas que podem envolver outros sistemas do corpo, como olho e cérebro. Histologicamente apresenta alterações distróficas dos músculos (intensa variabilidade do calibre das fibras, proliferação dos tecidos intersticiais, grau variável de necrose e degeneração das fibras musculares), na ausência de anormalidades estruturais específicas.

 

Clinicamente, as crianças apresentam hipotonia muscular, fraqueza generalizada com atraso no desenvolvimento motor, retrações fibrotendíneas intensas e precoces, frequentemente distúrbios respiratórios e dificuldade alimentar. A fraqueza muscular predomina nas porções proximais dos membros. Os músculos paravertebrais, cervicais, mastigatórios e faciais são também acometidos.

 

O diagnóstico é baseado na clínica, com presença de hipotonia neonatal, atraso no desenvolvimento motor e contraturas articulares e confirmado por achados de biópsia muscular e teste genético. O prognóstico depende do grau do comprometimento da musculatura respiratória e do desenvolvimento de deformidades da coluna vertebral.

 

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A forma mais frequente é causada por mutações no gene da cadeia β2 da laminina-2, chamada de merosina, uma proteína da matriz extracelular que se relaciona com as proteínas intracitoplasmáticas, como a distrofina, através de interações com o complexo distroglicano na membrana da fibra muscular. A merosina é encontrada nas fibras do músculo de esquelético, na periferia da membrana das células de Schwann e em vasos sanguíneos cerebrais. Portanto, um paciente com deficiência de merosina pode desenvolver anormalidades da substância branca.

 

Outras formas mais raras de DMC são causadas pela deficiência genética de diversas proteínas, tais como o colágeno VI (DMC forma de Ullrich); selenoproteína-N1(DMC forma com espinha rígida); fukutina (doença de Fukuyama); O-manose β-1,2-N-acetilglucosamiltransferase (doença músculo-olho-cérebro) e O-mannosyltransferase 1 (doença de Walker Warburg). Algumas destas formas têm importante envolvimento cerebral e estão associadas a atraso mental grave e a malformações complexas do sistema nervoso central como Fukuyama, a Síndrome de Walker-Warburg e doença músculo-olho-cérebro.

 

Com base nestes achados, as DMC foram classificadas em clássicas quando não existe envolvimento do sistema nervoso central.

 

Existe ainda um grupo heterogêneo de pacientes com DMC, cujo defeito genético ou a deficiência protéica ainda não foram identificados. Estes pacientes são incluídos no subgrupo chamado de DMC com merosina presente.

 

Os pacientes com deficiência da merosina, em torno de 40-50% dos casos, apresentam um fenótipo mais grave. A maioria não chega a deambular e o comprometimento respiratório é mais intenso. Outro achado característico nesses pacientes é o comprometimento da substância branca do SNC, embora o nível cognitivo seja normal na maioria das crianças.

As crianças com deficiência de merosina apresentam intenso e difuso comprometimento muscular, notado antes dos seis meses de vida e com grave atraso nas aquisições motoras.

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Tempo para a família

Os estudos que apresentam dados quanto à evolução destas crianças revelaram que, apesar da gravidade motora, o padrão de força muscular é relativamente estável ou com mínima progressão. No entanto, as perdas funcionais observadas durante a vida da criança estão mais relacionadas com a ocorrência de deformidades músculo-esqueléticas, especialmente de retrações musculares, e também do comprometimento respiratório.

 

Nos pacientes com a forma clássica, a maioria dos pacientes merosina-positiva tem quadro clínico moderado e é deambulante, ao passo que quase todos os pacientes merosina-negativa têm quadro clínico mais grave e não chegam a andar.

A maioria das crianças merosina-positiva mostra ampla variabilidade fenotípica: atrofia e fraqueza muscular leves ou moderadas, com padrão de predomínio proximal e retrações de predomínio distal; poucos têm retrações mais difusas e cifoescoliose ou exibem a mesma gravidade dos merosina-negativa, embora sem dismorfismo facial tão evidente.

 

Os pacientes merosina-negativa apresentam fenótipo característico: dismorfismo e debilidade facial bilateral, pálato ogival, hipotonia muscular acentuada e difusa com fraqueza muscular geralmente grau três, retrações fibrotendíneas generalizadas e precoces, atrofia muscular intensa com cifoescoliose, inteligência normal ou limítrofe e exames neurorradiológicos mostrando alteração difusa, raramente focal, da substância branca cerebral.

Até o presente momento não há tratamento definitivo para estas crianças. Apesar dos avanços em genética molecular, ainda não se conhece perfeitamente a correlação clínico-genética das diferentes formas de DMC, existindo formas não-classificáveis, principalmente do tipo merosina-positivas.

Diagnóstico

O diagnóstico é confirmado por teste genético. A biópsia muscular pode ajudar a diferenciar esta forma de miopatia de outras formas e, no caso de deficiência de merosina, não há marcação com merosina na biópsia de músculo destes pacientes.

Tratamento

Como há um envolvimento motor e às vezes de outros sistemas, como cardíaco, respiratório e envolvimento cognitivo, o tratamento é realizado por  equipe multidisciplinar com fisioterapia, fonoaudiologia e psicologia.

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